sexta-feira, 24 de junho de 2011

Polêmica do livro: Por uma Vida melhor

Após varias postagens, noticias de revistas, rádios e televisão nos vimos no dever de postar esse documento muito completo sobre a polêmica do erro que o livro Por uma vida melhor "traria". Vale a apena ler para entender a verdadeira proposta que o livro traz  e a necessidade do mesmo nas escolas por ser um livro super atual e completo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Machado de Assis - Um mestre da Leitura

“Todo artista aspira a ser lido, mesmo, quando sabia que ia contra o horizonte de expectativas de seu próprio leitor comum e atual...”
Em Contos Fluminense obra em que Machado de Assis, trata o leitor com deferência e educação. O Conto de abertura do livro “Miss Dollar”, trás o leitor para dentro do texto já na primeira linha.
"Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar." (p. 27)
Seguem se considerações sobre os deveres de um narrador, que desembocam em elogios à objetividade, economia e racionalidade de recursos narrativos
"(...) sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar: (...) "(p. 27)

O narrador entrega se à volúpia de imaginar diferentes e variados tipos de leitores, cujas, previsões sobre a identidade da personagem titulo ele antecipa e desmente, valendo da autoridade narrativa

"(...) uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue (...) " (p. 27)

O narrador de Miss Dollar dispõe se uma galeria inesgotável de leitores personagens que faz desfilar pelo texto.

"Miss Dollar quer dizer apenas que a rapariga é rica. " (p. 28)

É só depois dessa multiplicação de leitores imaginários, o autor cumpre sua promessa e desvela a identidade de Miss Dollar:

"A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica (...) Miss Dollar é uma cadelinha galga."  (p. 28)

E essa assídua convocação do leitor prossegue pelo resto do conto. O narrador qualifica com freqüência o leitor de quem e com quem fala. E mesmo assim Machado de Assis orquestra e embaralha os fios da ficção e da realidade, transformando leitores em personagens, tematizando e encenando os caminhos do envolvimento do leitor com a matéria narrada.
Essa metalinguagem constante guarda nas suas entrelinhas a ironia implacável que alguns anos depois cairão com indiferença sobre a cabeça dos leitores de Brás Cubas. O fato é que depois de tantas convocações para o interior de um texto, o leitor brasileiro do século passado, que teve sob os olhos essa “Miss Dollar”, estava pelas mãos seguríssímas do narrador machadiano educando se na Leitura Literária.
A constância da metalinguagem através da qual Machado, a pretexto de seus leitores, mas, sobretudo para eles tematiza o ato de leitura em curso inscreve no texto uma espécie de pedagogia da leitura, que não destoa do contexto brasileiro das ultimas décadas do século passado, quando o necessário fortalecimento do sistema cultural era bandeira assumida por todos os intelectuais. E é entre esses intelectuais que o politicamente discreto Machado na pele do colaborador da imprensa carioca milita em prol das letras nacionais! Esse mesmo Machado reconhece em 1858, o gigantismo e a complexidade da cultura nacional. Continuando atento em 1866, documenta a pobreza da infra-estrutura disponível para o desempenho das letras do segundo império.
Em 1985, Machado de Assis, mestre e patrono das letras brasileiras continua acompanhando gestos e rituais que selam o destino das letras e a falta de leitura no Brasil.
Retornando a Miss Dollar, observam se como os modos da escrita e  da leitura literária se representa na descrição, mulato, gago, epilético, pobre e autodidata e que não dominou o panorama letrado brasileiro na segunda metade do século XIX, e até sua morte em 1908.
No conto o responsável público na figura do leitor e da leitora, é frequentemente convocado para o texto, num diálogo narrador-leitor. É como se a ficção de Machado textualizasse o que a critica e a crônica tematizam. O texto é encenado literariamente pela via da metalinguagem que desvela não só o projeto de uma escrita literária, mas, também seu reverso e uma historicidade, qual seja, a necessária educação de leitores que dêem cota de tal escrita.

Referência:
DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUNDO
Autora: Marisa Lajolo Capitulo I – A Leitura Literária na Escola
Editora Ática

domingo, 19 de junho de 2011

Literatura... Percursos de leitura (Ivete Walty)

A autora vem afirmar o quanto o mundo contemporâneo é fortemente marcado pela mobilidade. Onde Walter Moser (2007) que estudou tal mobilidade atribui três tipos de movimentos: a locomoção, midiamoção e a artemoçao. A locomoção se refere ar migrações de pessoas, a midiamoção ao movimento de transferência dos meios midiaticos, como um livro que se torna filme, assim como o dialogo entre as artes onde uma musica é gravada e regravada em diferentes tons e escalas, versões diferentes nas artes plásticas. Ainda segundo Walter Moser esse processo da produção cultural contemporâneo engloba procedimentos de reciclagem, de reaproveitamento cultural onde esses procedimentos são um importante operador de leitura para se pensarem as praticas culturais do mundo atual. É nesse sentido, que é importante refletirmos um pouco sobre o par ciência e arte, a partir da relação entre linguagem e subjetividade pois o sujeito se constrói na e pela linguagem.
Sendo assim Dora Schnitman vem contestar a crença de que a linguagem é meramente um instrumento da comunicação, reconhecendo o lugar do sujeito na produção do conhecimento e a importância da enunciação, do lugar de quem fala e daquele para quem se fala e as instituições. A literatura deve ser pensada hoje nesse campo, móvel e complexo, porque ela é uma ligação de uma rede cultural que se expande pelo mundo inteiro sem ter espaços prefixados, seja das bibliotecas, escolas e museus.  Ou seja, falar de gênero textual implica perceber esse jogo de relações de pertencimento de forma interativa, hipertextual. Vale lembrar como a poesia circula hoje em suportes que vão do papel de pão à rede da web, jornais ou livros luxuosamente impressos ou os folhetos da literatura de cordel ( fazer link com o blog da elisangela). Assim como o poema digital, Palavrador, obra de Softwavy, e o projeto “leitura para todos” de Maria Antonieta Pereira, nos ônibus de Belo Horizonte.
Junto a mobilidade de suportes, está a mobilidade de gêneros, essas “formas relativamente estáveis” agrupadas pelos seus conteúdos temáticos, sua organização composiciona, que resultam em diferentes estilos. Assim como o diário e blogs, onde atravessamos diversas barreiras desde ordens geográficas a artísticas e muitas outras. Ate mesmo em Saraus, que acolhem pessoas variadas, onde se evidencia outros lugares da literatura, e mais, outros sujeitos/escritores. Como também se estabelece uma dialogo com sujeitos e espaços acadêmicos.
Notando-se que assim como a universidade se abre a sujeitos antes excluídos, a poesia escrita em folhas soltas, muros dialogam com outras em livros do passado e do presente, nas universidades ou nos centros culturais. Então, estudar literatura hoje é lidar com diferentes padrões e tendências, para isso temos que buscar operadores de leitura para nos ajudar a entrar em diferentes textos. E um desses operadores de leitura é o estudo do processo enunciativo, já que a literatura é um lugar da encenação da linguagem. A enunciação desdobra-se em uma pluralidade de eus e tus, deixando perpassar por vozes diversas. A autora traz como exemplo alguns textos de diferentes gêneros e lugares de fala, desde a Universidade ao cenário cultural da cidade para ilustrar o processo citado utilizando à temática do menino das ruas e das favelas. A autora faz o texto ser encantador pois através de casos, exemplos nos leva a refletir tudo o que esta sendo discutido e nos chama “atenção para as infinitas possibilidades de diálogos entre os gêneros e seus suportes, num movimento interativo”. Concluindo que os relatos, cotidianos ou literários, são nossos transportes coletivos, metáforas de De Certeau, em a invenção do cotidiano, “atravessam e organizam lugares, eles o selecionam e os reúnem num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São percursos de espaços”.

WALTY, Ivete. Literatura, percursos de leitura. In: Livros e Telas. Belo Horizonte: UFMG, 2011.