domingo, 19 de junho de 2011

A necessidade da experiência

A literatura para crianças cumpre um papel fundamental no processo de escolarização e resulta diretamente na formação ou não de futuros leitores.
Aparecida Paiva, em seu artigo: A produção literária para crianças, onipresença e ausência das temáticas, norteia a discussão da atual posição que a literatura para crianças assume na escola, a partir da relação de títulos selecionados pelo PNBE/2008.
Os títulos com o tema fantasia, têm a demanda mais expressiva representando 86% do total, nele estão inclusos os contos de fadas e fábulas, este é um tema tradicional, que trabalha com um universo imaginário e é criado a partir de espaços do universo infantil, como circos, parques e florestas. Em comparação apenas 3% dos títulos abordam temas de questões fundamentais que atingem a vida da criança, como morte, medo, abandono, separação e sexualidade.
A qualidade de textos é questionável em ambos os grupos, porém independente deste fato, a escola em seu cotidiano filtra um tipo de literatura, que melhor se adapta a sua função escolarizada e moralizante, censura temas polêmicos, perigosos, ousados, subestima os conflitos infantis e a capacidade dos pequenos lidarem com o mundo real.
A literatura para crianças em sua versão escolarizada, é reduzida e funciona como um recurso de aprendizagem dos conteúdos, ao invés de ser utilizada como possibilidade de ampliação do universo cultural da criança, a escola nem sempre busca desenvolver práticas de leitura literária, se limitando a integrar estes textos ao processo de escolarização.
Mas qual a importância de insistir que a literatura infantil ao propor a experiência e tratar temas polêmicos e delicados, amplia as referências estéticas, culturais e éticas da criança? Fazer este papel de reversão, seria segundo dito por Aguiar, "redimir a literatura infantil do seu pecado original, ter nascido comprometida com a educação em detrimento da arte?"

Referências:
SOARES, Magda e PAIVA, Aparecida (Org). Literatura infantil: políticas e concepções. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008;

A necessidade da experiência II
Para continuar a discussão, a história Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque, apresenta uma nova versão do tradicional conto Chapeuzinho Vermelho, porém na versão escrita por Chico, Chapeuzinho é Amarelo de Medo. A menina é levada enfrentar seus temores, partindo de sua condição como criança, no texto não há a voz do adulto, mas a menina por si só ao longo da trama, consegue reverter a situação. Além disso há jogos e tracadilhos de palavras, a ilustração também apresenta-se como uma interpretação do texto escrito, ela "conversa" com ele, tendo características próprias, mas não o representa ao pé da letra.
Chapeuzinho ao longo da trama é capaz de experimentar, experimenta primeiramente o medo e depois a capacidade superar este temor. Neste sentido, o livro trabalha com um tema delicado, mas de forma ampla, em nenhum momento os medos de chapeuzinho são subestimados, a criança é respeitada como indivíduo capaz de lidar com seus conflitos. Este é um texto capaz de despertar a atenção de adultos e crianças.

Referências.
REFERÊNCIAS. BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997

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