sexta-feira, 24 de junho de 2011

Polêmica do livro: Por uma Vida melhor

Após varias postagens, noticias de revistas, rádios e televisão nos vimos no dever de postar esse documento muito completo sobre a polêmica do erro que o livro Por uma vida melhor "traria". Vale a apena ler para entender a verdadeira proposta que o livro traz  e a necessidade do mesmo nas escolas por ser um livro super atual e completo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Machado de Assis - Um mestre da Leitura

“Todo artista aspira a ser lido, mesmo, quando sabia que ia contra o horizonte de expectativas de seu próprio leitor comum e atual...”
Em Contos Fluminense obra em que Machado de Assis, trata o leitor com deferência e educação. O Conto de abertura do livro “Miss Dollar”, trás o leitor para dentro do texto já na primeira linha.
"Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar." (p. 27)
Seguem se considerações sobre os deveres de um narrador, que desembocam em elogios à objetividade, economia e racionalidade de recursos narrativos
"(...) sem a apresentação de Miss Dollar, seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes Miss Dollar: (...) "(p. 27)

O narrador entrega se à volúpia de imaginar diferentes e variados tipos de leitores, cujas, previsões sobre a identidade da personagem titulo ele antecipa e desmente, valendo da autoridade narrativa

"(...) uma inglesa pálida e delgada, escassa de carnes e de sangue (...) " (p. 27)

O narrador de Miss Dollar dispõe se uma galeria inesgotável de leitores personagens que faz desfilar pelo texto.

"Miss Dollar quer dizer apenas que a rapariga é rica. " (p. 28)

É só depois dessa multiplicação de leitores imaginários, o autor cumpre sua promessa e desvela a identidade de Miss Dollar:

"A Miss Dollar do romance não é a menina romântica, nem a mulher robusta, nem a velha literata, nem a brasileira rica (...) Miss Dollar é uma cadelinha galga."  (p. 28)

E essa assídua convocação do leitor prossegue pelo resto do conto. O narrador qualifica com freqüência o leitor de quem e com quem fala. E mesmo assim Machado de Assis orquestra e embaralha os fios da ficção e da realidade, transformando leitores em personagens, tematizando e encenando os caminhos do envolvimento do leitor com a matéria narrada.
Essa metalinguagem constante guarda nas suas entrelinhas a ironia implacável que alguns anos depois cairão com indiferença sobre a cabeça dos leitores de Brás Cubas. O fato é que depois de tantas convocações para o interior de um texto, o leitor brasileiro do século passado, que teve sob os olhos essa “Miss Dollar”, estava pelas mãos seguríssímas do narrador machadiano educando se na Leitura Literária.
A constância da metalinguagem através da qual Machado, a pretexto de seus leitores, mas, sobretudo para eles tematiza o ato de leitura em curso inscreve no texto uma espécie de pedagogia da leitura, que não destoa do contexto brasileiro das ultimas décadas do século passado, quando o necessário fortalecimento do sistema cultural era bandeira assumida por todos os intelectuais. E é entre esses intelectuais que o politicamente discreto Machado na pele do colaborador da imprensa carioca milita em prol das letras nacionais! Esse mesmo Machado reconhece em 1858, o gigantismo e a complexidade da cultura nacional. Continuando atento em 1866, documenta a pobreza da infra-estrutura disponível para o desempenho das letras do segundo império.
Em 1985, Machado de Assis, mestre e patrono das letras brasileiras continua acompanhando gestos e rituais que selam o destino das letras e a falta de leitura no Brasil.
Retornando a Miss Dollar, observam se como os modos da escrita e  da leitura literária se representa na descrição, mulato, gago, epilético, pobre e autodidata e que não dominou o panorama letrado brasileiro na segunda metade do século XIX, e até sua morte em 1908.
No conto o responsável público na figura do leitor e da leitora, é frequentemente convocado para o texto, num diálogo narrador-leitor. É como se a ficção de Machado textualizasse o que a critica e a crônica tematizam. O texto é encenado literariamente pela via da metalinguagem que desvela não só o projeto de uma escrita literária, mas, também seu reverso e uma historicidade, qual seja, a necessária educação de leitores que dêem cota de tal escrita.

Referência:
DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DO MUNDO
Autora: Marisa Lajolo Capitulo I – A Leitura Literária na Escola
Editora Ática

domingo, 19 de junho de 2011

Literatura... Percursos de leitura (Ivete Walty)

A autora vem afirmar o quanto o mundo contemporâneo é fortemente marcado pela mobilidade. Onde Walter Moser (2007) que estudou tal mobilidade atribui três tipos de movimentos: a locomoção, midiamoção e a artemoçao. A locomoção se refere ar migrações de pessoas, a midiamoção ao movimento de transferência dos meios midiaticos, como um livro que se torna filme, assim como o dialogo entre as artes onde uma musica é gravada e regravada em diferentes tons e escalas, versões diferentes nas artes plásticas. Ainda segundo Walter Moser esse processo da produção cultural contemporâneo engloba procedimentos de reciclagem, de reaproveitamento cultural onde esses procedimentos são um importante operador de leitura para se pensarem as praticas culturais do mundo atual. É nesse sentido, que é importante refletirmos um pouco sobre o par ciência e arte, a partir da relação entre linguagem e subjetividade pois o sujeito se constrói na e pela linguagem.
Sendo assim Dora Schnitman vem contestar a crença de que a linguagem é meramente um instrumento da comunicação, reconhecendo o lugar do sujeito na produção do conhecimento e a importância da enunciação, do lugar de quem fala e daquele para quem se fala e as instituições. A literatura deve ser pensada hoje nesse campo, móvel e complexo, porque ela é uma ligação de uma rede cultural que se expande pelo mundo inteiro sem ter espaços prefixados, seja das bibliotecas, escolas e museus.  Ou seja, falar de gênero textual implica perceber esse jogo de relações de pertencimento de forma interativa, hipertextual. Vale lembrar como a poesia circula hoje em suportes que vão do papel de pão à rede da web, jornais ou livros luxuosamente impressos ou os folhetos da literatura de cordel ( fazer link com o blog da elisangela). Assim como o poema digital, Palavrador, obra de Softwavy, e o projeto “leitura para todos” de Maria Antonieta Pereira, nos ônibus de Belo Horizonte.
Junto a mobilidade de suportes, está a mobilidade de gêneros, essas “formas relativamente estáveis” agrupadas pelos seus conteúdos temáticos, sua organização composiciona, que resultam em diferentes estilos. Assim como o diário e blogs, onde atravessamos diversas barreiras desde ordens geográficas a artísticas e muitas outras. Ate mesmo em Saraus, que acolhem pessoas variadas, onde se evidencia outros lugares da literatura, e mais, outros sujeitos/escritores. Como também se estabelece uma dialogo com sujeitos e espaços acadêmicos.
Notando-se que assim como a universidade se abre a sujeitos antes excluídos, a poesia escrita em folhas soltas, muros dialogam com outras em livros do passado e do presente, nas universidades ou nos centros culturais. Então, estudar literatura hoje é lidar com diferentes padrões e tendências, para isso temos que buscar operadores de leitura para nos ajudar a entrar em diferentes textos. E um desses operadores de leitura é o estudo do processo enunciativo, já que a literatura é um lugar da encenação da linguagem. A enunciação desdobra-se em uma pluralidade de eus e tus, deixando perpassar por vozes diversas. A autora traz como exemplo alguns textos de diferentes gêneros e lugares de fala, desde a Universidade ao cenário cultural da cidade para ilustrar o processo citado utilizando à temática do menino das ruas e das favelas. A autora faz o texto ser encantador pois através de casos, exemplos nos leva a refletir tudo o que esta sendo discutido e nos chama “atenção para as infinitas possibilidades de diálogos entre os gêneros e seus suportes, num movimento interativo”. Concluindo que os relatos, cotidianos ou literários, são nossos transportes coletivos, metáforas de De Certeau, em a invenção do cotidiano, “atravessam e organizam lugares, eles o selecionam e os reúnem num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São percursos de espaços”.

WALTY, Ivete. Literatura, percursos de leitura. In: Livros e Telas. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

Projeto Tertúlia Literária

Criado em 2009, o Tertúlia Literária, cujo nome significa reunião de amigos leitores, é um projeto desenvolvido pela Faculdade de Educação (FAE) da UFMG que pretende reunir leitores para falar de suas experiências com o universo dos leitores.
A cada edição é escolhida uma temática que orienta os livros selecionados, em sua 3° edição o tema é viagem e conta com diversos títulos entre eles: Odisseia de Homero e Vidas secas de Graciliano Ramos
 Os participantes lêem livros de literatura que são selecionados para  encontros mensais que acontecem na própria Faculdade de Educação. Esses encontros ocorrem normalmente nas tardes das últimas sextas-feiras de cada mês. È uma tarde agradável de muito bate papo e aprendizado onde são compartilhadas experiências de leitura dos participantes e de convidados.
Participei do projeto nas em suas duas primeiras edições e posso dizer que foi uma das coisas mais maravilhosas que já conheci, pois para todos nós estudantes acostumados com certa frieza do contexto acadêmico, se reunir em tardes de sexta feira para falar sobre literatura, saboreando biscoitinhos caseiros  maravilhosos parece mesmo uma utopia.

Literatura e conexões

Essa semana passando em frente á uma banca de jornal, não resisti e mesmo com toda a pressa de sempre, foi inevitável não parar e ler, a capa da revista Veja de 18 de Maio de 2011. Após a leitura da capa, segui para leitura do conteúdo da reportagem especial intitulada, “Uma geração descobre o prazer de ler”, onde é tratado a contribuição das tecnologias e dos “clássicos globais” para formação de novos leitores.
Bruno Meier inicia o texto dando o exemplo de uma jovem universitária carioca, que usou o seu blog para convidar pessoas que se interessassem em ler obras de grandes autores para um grupo de discussão. Ele usa esse exemplo para desmentir algumas teses, que diziam que os “sucessos globais” como ele denomina - Harry Potter, Crepúsculo, etc. não ajudariam na formação de novos leitores e que o resultado desse fenômeno de vendas seria nulo. Ele aproveita o viés para falar das previsões pessimistas que circulou no decorrer do último século, a dos livros e o hábito de ler estarem fadados à morte. Segundo Meier mesmo contra a expectativa vem surgindo “uma nova e robusta” geração de leitores no país – movida pelos sucessos globais como evidenciam os números que se referem a vendas de livros no país.
Um dado importante que a reportagem traz é que não importa a idade, um leitor pode ir aprimorando seu gosto. Pode partir de livros despretensiosos e chegar a clássicos. No corpo da reportagem há sugestões de organogramas de leituras partindo de sucessos globais até chegar aos clássicos literários.

Referência
Revista Veja, edição 2217 - ano 44 - nº 20, 18 de Maio de 2011. Editora Abril.

SUGESTÃO
Falando em boas reportagens é inevitável não lembrar da edição especial da revista Nova Escola, sobre Leitura Literária. 

Literatura Infantil brasileira (1960 - 1980)

A Literatura Infantil Brasileira sofreu ao longo de sua existência transformações a fim de se adequar as novas expectativas e exigências da sociedade contemporânea, dessa forma Marisa Lajolo e Regina Zilberman propõem em Literatura Infantil Brasileira: História & Histórias uma discussão sobre essa temática. Dividido em sete capítulos (sendo o último destinado a cronologia histórico-literária) o livro abrange o processo de mudança da Literatura Infantil desde o período da república velha até a redemocratização do país. Como recorte esse presente texto discutirá apenas o sexto capítulo, no qual se refere à literatura da década de 60 em diante.
A partir dos anos de 1960 presenciamos no Brasil uma explosão de publicações voltadas para as crianças e jovens, isso se deve a vários fatores, o principal deles é a consolidação do capitalismo no país, onde a iniciativa privada de editoras e gráficas oportunizou uma maior infra-estrutura dos meios de circulação literária e consequentemente um campo atrativo para os escritores. O que vemos é um número exorbitante de obras e autores que hora rompe com a tradicional Literatura Infantil hora resgatam traços de um período Lobatiano.
Com o mercado de livros super aquecido e uma concorrência acirrada, os escritores se vêem obrigados a lançarem uma grande quantidade de volumes para se estabilizarem no campo. O resultado é uma produção em série, no qual o mesmo personagem aparece em histórias diferentes, o que lembra muito a estratégia seguida por Monteiro Lobato.
O objetivo da literatura nesse período segue em várias vertentes. Alguns autores em seus trabalhos preferem focalizar os problemas sociais e a marginalização da infância, assim os textos retratam a vida de crianças pobres, negras e com todas as dificuldades que uma sociedade moderna pode ter. Neste sentido temos uma inovação no modo de pensar o texto para os pequenos, já que tal tema era até então considerados impróprio para eles.
Outra tendência é uma narrativa voltada para história policial e de ficção científica, nos quais as crianças em sua maioria aparecem como protagonista. É interessante observar o confronto existente entre o mundo dos grandes e dos pequenos, as crianças representam uma espécie de herói por conseguirem resolver todo o problema causado pelo vilão que é sempre um adulto.
Por último a literatura buscou uma ruptura com a poética tradicional, essa seria a maior inovação deste período. Os autores ao produzirem seus textos rompem com uma literatura tradicionalmente escolar e moralista e assume o papel de narrador repleto de dúvidas e inseguranças, típico do modernismo. As obras passaram a incorporar temas do cotidiano em uma linguagem mais coloquial. Presenciamos também uma articulação entre o texto e a imagem onde este último não admite mais ser apenas uma ilustração assumindo assim um papel autônomo do texto escrito ou pelo menos um complemento dele, um texto visual.

Referência:
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: História e Histórias. São Paulo, Ática, 1984.

O livro Literário

O livro literário contém uma leitura mais pessoal, descontraída, sem exigências de obrigações e utilidade. O livro literário tem um fim em si mesmo, possibilitar um diálogo entre o leitor e o autor. Fugindo assim do formato dos livros didáticos, onde o autor e o escritor estabelecem um diálogo envolvido pelas exigências do mundo escolar - onde a leitura, sua forma e conteúdos são avaliados. A partir dessas considerações é possível dizer que a Leitura Literária é toda leitura não funcional, com possibilidade de envolvimento emocional, partindo sempre das preferências e orientações do leitor, uma verdadeira viagem  dentro do livro.

Referência:
Oliveira, Ana Arlinda de. Literatura Infantil e doutrinação da criança. Cuiabá, MT: Universidade Federal de Mato Grosso: Entrelinhas, 2005.

O livro de bolso

Graça Paulino vem questionar nesse texto o tipo de literatura utilizada no país, onde afirma que poucas são as livrarias no Brasil porque estas são lojas especializadas no comércio de um produto que é dirigido a uma minoria insignificante da população. Onde a grande massa urbana alfabetizada não procura a literatura de livraria, devido à falta de poder aquisitivo e a falta de cultura para este tipo de consumo.
Outra questão indagada para a falta de consumo da literatura de livrarias é a literatura de banca, onde o preço é muito menor, o livro é muito mais fácil de ser lido e carregado e ainda pode ser trocado, depois de lido por outro. Sendo assim essa literatura tem um numero muito maior de adeptos do que os leitores da literatura clássica. Como exemplo disso, a CEDIBRA, que edita o “bolsilivro”, é a responsável por mais de trinta series de sucesso, entre as temáticas estão o faroeste, espionagem, ficção entre outras. Esse tipo de literatura participa do universo da cultura de massas e por isso é grande o numero de leitores.
Muitas são as hipóteses sobre esse leitor de livros e a sua leitura. Uma delas é a de que o leitor dessas obras é um adulto de baixo nível cultural. Outra que a leitura de tais obras tem a finalidade de fuga predominante. Alem de apresentar uma grande dose de violência, com função deslocadora de tensões. Entre as hipóteses, há a que pensa que o livro é logo esquecido, que todo a historia deve acabar bem e que o exótico é preferido ao familiar.
Ao desconhecer trabalhos de campo que tenham testado estas hipóteses, Graça se propôs a orientar vinte e dois alunos do curso de graduação da Faculdade de Letras em uma pesquisa sobre a leitura de livros de bolso em Belo Horizonte, no primeiro semestre de 1980. Onde foi montada uma entrevista com questões que permitissem verificar as hipóteses que foram citadas. Foram entrevistados cinqüenta e cinco leitores habituados a leitura de livros de bolso onde depois da entrevista procedeu à analise de dados.
As conclusões forma que, ao contrario da hipótese citada, a faixa de escolaridade do leitor de bolsilivros varia muito e se estende ao grau universitário. Na maioria dos casos a preferência de leitura é consciente e tendem a não gostar da leitura de outros tipos de livros por acharem os mesmos longos, cansativos e dificies, porem não excluem a leitura de jornais e revistas. Os leitores dessa literatura não se preocupam em fixar as historias que lê, é uma leitura rápida e superficial. O espaço exótico é realmente preferido ao familiar, porque consideram verossímeis em cenários estrangeiros e querem obter a ilusão de uma viagem.
Os leitores de bolsilivro estão satisfeitos com as historias que lêem, concordadno com o final feliz e todo o resto. Eles gostam de encontrar episódios violentos nas narrativas, onde grande parte deles não associam violência das historia à realidade e dizem que nesta , infelizmente, o bandido nem sempre acaba mal. Nota-se que as conclusões da entrevista sobre as hipóteses, apenas a primeira foi negada, as outras se confirmaram. A pesquisa introduz uma nova perspectiva nos trabalhos universitários sobre literatura e contribui para os estudos sobre a teoria da comunicação de massa. Graça conclui chamando nossa atenção, para que não devemos nos desanimar ao confirmar que as obras literárias de tão baixa qualidade sejam tão apreciadas pela maioria que busca na leitura um modo de se alhear aos problemas concretos da vida social, mas que devemos utilizar essa face da historia da literatura de nosso tempo e país como forma de reflexão para subvertê-la à procura de meios para ajudar a formar um novo habito popular de leitura.

REFERÊNCIA:
PAULINO, Graça. Livro de bolso. In: Das leituras ao Letramento Literário. Belo Horizonte: Fae/UFMG E Pelotas: EDGUfpel,2010.

A leitura literária na escola


"Se, por não sei que excesso de socialismo ou barbárie, todas as nossas disciplinas, devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário”.(Barthes)
Marisa Lajolo inicia esse capitulo de seu livro: Do Mundo da Leitura para a Leitura do Mundo com o fragmento do texto de Barthes citado acima, para nos dizer que a literatura perpassa todas as disciplinas, é multidisciplinar, e transversal. E que a concepção que se tem de literatura muitas vezes é deixada de lado em discussões pedagógicas. Seleciona alguns argumentos os depoimentos colhidos de professores de varias escolas, cuja fala e angustias são as mesmas, implicando sempre no descaso e desinteresse dos alunos e no desânimo dos professores. E o que surge nas linhas e entrelinhas desses depoimentos é a figura de um professor que se percebe como guardião do templo. Portanto é ai que reside o problema, pois, o texto literário é o objeto do zelo e do culto a esse templo, é a razão de ser desse templo, é também o objeto do incomodo e do desinteresse desses fieis que não pediram para ali estar. Então talvez seja desse desencontro de expectativa entre o professor e o aluno que a linguagem pela qual costuma se falar sobre o ensino da literatura desfile o amargor e o desencanto. A autora ainda cita Fernando Pessoa: “Ai que prazer não cumprir um dever, ter um livro para ler e não fazer”, para fomentar ainda mais a discussão. Pessoa se solidariza com as ovelhas “rebeldes” declarando sua aversão à leitura. E também para ilustrar e nos dizer que o professor está à mercê das editoras que já entregam os livros prontos. O professor deixou de ser responsável por preparar suas aulas e isso contribuiu para um distanciamento do mundo da leitura da leitura do mundo, pois, Marisa considera importantíssimo contextualizar historicamente o texto que se lê. Houve também um pesquisa realizada pela Editora Abril, onde vários professores apresentam sugestões até bem intencionadas, mas, que reduzem o atrito e aumenta a digestibilidade da aula, porém lidam superficialmente com a questão que é como está sendo a leitura literária na escola, resolvendo o problema pelo seu contorno. Porém Marisa Lajolo ainda considera que o que fazer com o texto literário na sala de aula, não seja ainda da competência do professor, voltando a falar das editoras que preparam os livros didáticos e paradidáticos como quase monopolizadores do mercado escolar, deixando para o professor um script de autoria alheia. Nesse sentido convêm discutir sobre o conceito de Motivação, porque é em nome desse conceito que a obra literária pode ser completamente desfigurada na prática escolar. Ou o texto dá um sentido ao mundo ou ele não tem sentido nenhum. E a autora finaliza esse capitulo dizendo numa ultima perspectiva  que o desencontro literatura-jovens que explode dentro da escola parece sintoma de um desencontro que os professores também vivem: o aluno não lê, o professor também não, os alunos escrevem mal o professor também. Mas sinalizando esses problemas e outros ajuda a supera los e superando-os pode se cumprir nas aulas o espaço de liberdade e subversão que, em certas condições instauram se pelo e no  texto Literário.


Referência
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. Cap. I - "A leitura literária na escola". Editora Ática

Marisa Philbert Lajolo
Bacharelou-se e licenciou-se em Letras pela Universidade de São Paulo (1967), onde também concluiu Mestrado e Doutorado em Letras, Teoria Literária e Literatura Comparada, entre 1975 e 1980. Fez pós Doutorado na Brown University e vários estágios de pesquisa na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca Saint Genevieve (Paris) e na John Carter Brown Library. Atualmente é professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e mantém vínculo como professora colaborador voluntário com a Universidade Estadual de Campinas. Suas atuais linhas de pesquisa recobrem interesse por Teoria Literária e Literatura Brasileira, atuando principalmente nas áreas de história da leitura, literatura infantil e/ou juvenil e Monteiro Lobato. É Bolsista Senior do CNPq.


A necessidade da experiência

A literatura para crianças cumpre um papel fundamental no processo de escolarização e resulta diretamente na formação ou não de futuros leitores.
Aparecida Paiva, em seu artigo: A produção literária para crianças, onipresença e ausência das temáticas, norteia a discussão da atual posição que a literatura para crianças assume na escola, a partir da relação de títulos selecionados pelo PNBE/2008.
Os títulos com o tema fantasia, têm a demanda mais expressiva representando 86% do total, nele estão inclusos os contos de fadas e fábulas, este é um tema tradicional, que trabalha com um universo imaginário e é criado a partir de espaços do universo infantil, como circos, parques e florestas. Em comparação apenas 3% dos títulos abordam temas de questões fundamentais que atingem a vida da criança, como morte, medo, abandono, separação e sexualidade.
A qualidade de textos é questionável em ambos os grupos, porém independente deste fato, a escola em seu cotidiano filtra um tipo de literatura, que melhor se adapta a sua função escolarizada e moralizante, censura temas polêmicos, perigosos, ousados, subestima os conflitos infantis e a capacidade dos pequenos lidarem com o mundo real.
A literatura para crianças em sua versão escolarizada, é reduzida e funciona como um recurso de aprendizagem dos conteúdos, ao invés de ser utilizada como possibilidade de ampliação do universo cultural da criança, a escola nem sempre busca desenvolver práticas de leitura literária, se limitando a integrar estes textos ao processo de escolarização.
Mas qual a importância de insistir que a literatura infantil ao propor a experiência e tratar temas polêmicos e delicados, amplia as referências estéticas, culturais e éticas da criança? Fazer este papel de reversão, seria segundo dito por Aguiar, "redimir a literatura infantil do seu pecado original, ter nascido comprometida com a educação em detrimento da arte?"

Referências:
SOARES, Magda e PAIVA, Aparecida (Org). Literatura infantil: políticas e concepções. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008;

A necessidade da experiência II
Para continuar a discussão, a história Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque, apresenta uma nova versão do tradicional conto Chapeuzinho Vermelho, porém na versão escrita por Chico, Chapeuzinho é Amarelo de Medo. A menina é levada enfrentar seus temores, partindo de sua condição como criança, no texto não há a voz do adulto, mas a menina por si só ao longo da trama, consegue reverter a situação. Além disso há jogos e tracadilhos de palavras, a ilustração também apresenta-se como uma interpretação do texto escrito, ela "conversa" com ele, tendo características próprias, mas não o representa ao pé da letra.
Chapeuzinho ao longo da trama é capaz de experimentar, experimenta primeiramente o medo e depois a capacidade superar este temor. Neste sentido, o livro trabalha com um tema delicado, mas de forma ampla, em nenhum momento os medos de chapeuzinho são subestimados, a criança é respeitada como indivíduo capaz de lidar com seus conflitos. Este é um texto capaz de despertar a atenção de adultos e crianças.

Referências.
REFERÊNCIAS. BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997

Funções e disfunções do livro para crianças

Segundo a autora Graça Paulino questionar as funções da literatura ou da arte em geral é passar por um terreno pedregoso. Como vemos na literatura infantil contemporânea, onde ela tem que ser doce e ao mesmo tempo deve ser útil, atendendo as demandas históricas desses pequenos cidadãos em uma sociedade em crise. Então pensando criticamente ela nos chama a indagarmos sobre as razões da atual superprodução de livros para crianças no Brasil, onde não houve grande mudança na condição financeira dos menos favorecido, as livrarias vem diminuindo cada vez mais e as bibliotecas esquecidas pela alegação de falta de verbas.
Assim como o letramento literário, que esta acessível a uma minoria insignificante da população, onde essa leitura é forçada na escola. Os alunos são forçados a ler com desgosto livros que eles não escolheram e do qual nada transferem para o seu crescimento cultural. O que acaba fazendo com que o “doce” e o “útil” fiquem perdidos. O que fica marcado nesse processo, é a revelação das contradições de um sistema perverso onde o consumismo extremamente fútil se revela do
âmbito privado ao âmbito publico.
No caso do livro infantil quem realmente tem o maior poder de compra são os orientadores escolares e segundo a autora talvez esteja aí uma das justificativas para tanta produção literária dócil, bem comportada que vai para as bibliotecas escolares e para as casas dos alunos, indagando onde estaria aquela literatura que se torna realmente doce e útil ao colocar o leitor na tradição estética de estranhamento, de questionamento do real e das linguagem cristalizada no senso comum. Sendo assim, se o livro infantil deve se doce e útil que ele seja para seus verdadeiros leitores. Quando a escolha do livro não passa pela criança, passa pelo pedagogismo moralizante e utilitarista, feito pelos divulgadores de algumas editoras que não percorrem mais as livrarias, apensa escola, buscando pedagogos e não as crianças.
A escola ao negar a própria natureza da literatura, continua ditando “o que o outro pode dizer e ler”, sem considerar as especificidades do aluno. Porém no momento político em que esta repleto de falas otimistas, redondas, mansas, a indagação é de como defender espaço para o estranhamento questionador. Onde a critica da cultura precisa reencontrar sua dimensão literária, especialmente em respeito as instâncias de produção e recepção do livro infantil. A autora conclui então, evidenciando que para romper em ciclo de submissão, padronização contrario ao letramento literário é necessário manter viva a discussão sobre valores estéticos e suas funções, restabelecendo também a consciência do professor, do supervisor ou do orientador, que são os mediadores escolares da leitura, onde o que deve nos interessar é a formação de leitores verdadeiramente conscientes, para formar a possibilidade de um mundo que ainda não esta pronto mas se formando para as diferenças, pluralidades e para a verdadeira democracia. Cabe a nós futuros pedagogos, supervisores, orientadores e profissionais da educação rompermos com essa leitura sem sentido algum para os alunos promovendo uma leitura que abre os horizontes, a imaginação e o vocabulário dessas crianças.

Referência:
PAULINO, Graça. Funções e disfunções do livro para crianças. In: Das leituras ao Letramento Literário.Belo Horizonte : Fae/UFMG E Pelotas : EDGUfpel, 2010.

A arte de contar histórias

Contar história é uma arte que vem desde os tempos antigos, nas grandes civilizações histórias já eram contadas para manter as tradições e as línguas. As histórias ao longo do séculos se misturam com as culturas, e invadiram as casas, as escolas os teatros.
Além disto esta é uma atividade pode enriquecer o mundo de seus ouvintes pois proporciona o envolvimento com o mundo imaginário e incentiva a leitura através de seus participantes.
“Contar histórias é revelar segredos, é seduzir o ouvinte e convidá-lo a se apaixonar... pelo livro... pela história... pela leitura. E tem gente que ainda duvida disso.” (Grupo Morandubetá Contadores de Histórias)

A nuvem triste - Célia Gomes
Célia Gomes narra o conto popular brasileiro "A nuvem triste" no programa TVlisão.

Vento Norte - Bia Bedran
Bia Bedran conta a história do Vento Norte em espetáculo realizado em Campos dos Goytacazes pela Secretaria de Educação em outubro de 2007

Chico dos Bonecos
Histórias diversas contada por Francisco Marques, conhecido popularmente como Chico dos Bonecos


Para quem se inspirou e deseja aprender esta arte, o Instituto Aletria em Belo Horizonte oferece cursos para a  formação de contadores . (link do instituto que pode ser colocado como Hiperlink na palavra Instituto Aletria.  http://www.aletria.com.br/ )
Para se inspirar clique nos links abaixo e boa viagem ao universo mágico.

O Ratinho que morava no livro, Monique Felix.

"O Ratinho que morava no livro" é um dos livros da série Ratinho da editora Melhoramentos e apresenta uma sequência de ilustrações completas em si mesmas, como linguagem narrativa, que visa a desenvolver na criança de qualquer idade a observação e a capacidade de apreender o sentido da imagem. Pertence ao gênero Infanto-Juvenil  e fala de um ratinho que muito curioso decide investigar o que há além das páginas brancas de um livro. E nessa aventura de roer as páginas ele descobre um mundo novo e colorido. Se trata de um texto visual onde a ilustração presente não serve apenas para ilustrar mas ela é quem diz o que se passa nesta historia levando o leitor a se apropriar dessa leitura, rompendo com uma leitura automatizada, onde cada leitor verá essa historia com um olhar diferente, cada detalhe será visto por um determinado ponto de vista, e essa é a verdadeira leitura literária.





O Beijo da Palavrinha. Mia Couto, ilustrações de Malangatana. Editora Língua Geral livros. O livro mistura Arte com Literatura numa linguagem contemporânea, cheia de mistérios. O livro feito de letras grandes e pequenas se organiza numa narrativa acrescida de ilustrações que prende a atenção do leitor e o convida a uma viagem significativa e cheia de encanto através de uma pequena palavrinha com apenas três letras, que permite aos seus personagens conhecer um universo sem sair do lugar. Impossível não se apaixonar por essa historia.

Sugestões de Livros literários infantis

Esquisita como eu. Martha Medeiros. Ilustrações Laura Castilhos. Editora projeto. Expõe o caminho percorrido por uma garota na busca por sua identidade, partindo de reflexões feitas  dos comentários ouvidos no dia-a-dia.As ilustrações foram feitas a partir de materiais recicláveis e exprimem fielmente o conteúdo do texto escrito.

Grande ou pequena? Beatriz Meirelles, ilustrado por Aída Cassiano. Editora Scipione. Esse livro traz uma reflexão sobre o que é ser grande e ser pequena baseada nas frases ouvidas no cotidiano de uma crinça, como: você é muito pequena para fazer isso, ou você é muito grande para essas coisas.

Discurso do Urso. Júlio Cartázar, ilustrado por Emilio Urberuaga, traduzido por Leo Cunha. Editora Galerinha Record, Rio de Janeiro, 2009, As imagens buscam fazer um acompanhamento fiel do texto escrito. Livro conta os passeios noturnos de um urso que anda pelas tubulações dos prédios como se fosse um rato.








Abaré, Graça Lima. Livro lançado pela editora Paulus conta as aventuraras de um pequeno índio que tem como seus abarés ( que significa amigos) os animais das florestas. Essa obra é toda em desenhos não contendo textos escritos.





Minha mãe é um problema. Babette Cole. Editora Companhia das letrinha. No livro é narrada a história de um garoto que têm dificuldades de entrosamento com os seus colegas de classe por sua mãe ser um pouco estranha – ser uma bruxa.








Coração de Ganso. Regina Rennó. Editora Mercury LTDA. Conta a história de um ganso que cuida de filhotes de outra espécie. A história é contada apenas por imagens.







Emoções, Juarez Machado. Rio de Janeiro, 2001, editora Agir. Livro todo em imagens não contendo textos escritos, as pegadas que passa no decorrer de todo o livro é como se fosse uma pessoa que caminha por diferentes locais incorporando um pouco dos aspectos daqueles objetos admirados.







O rinoceronte ri. Miguel Sanches Neto. Ilustrações de Bity Sackis. Editora Record LTDA. Contém poemas inspirados em temas e objetos do nosso cotidiano. Os poemas são de fácil compreensão possibilitando a criança percepções quanto a rima e estrutura poética.




















Vizinho, Vizinha. Graça Lima, Mariana Massaroni e Rogger Mello. Editora Schwarcz LTDA. Através das diferenças e semelhanças conta o modo de vida de dois vizinhos de forma divertida. As ilustrações sempre contemplam três lugares, o apartamento do vizinho, da vizinha e o corredo. As imagens são retratos fiéis dos objetos.























Rodolfo, o carneiro. Rob Scotton. Editora Rocco LTDA. Conta a história de um carneiro que está com insônia e faz de tudo para conseguir dormir. As imagens se articulam diretamente com o texto escrito, sendo impossivel dissociá-las.







O outro lado, Istvan Banyai, tradução Daniel Bueno, São Paulo: Cosac Naify, 2007. Livro composto primordialmente de imagens, com pequenos textos que auxiliam na compreensão das mesmas. Essa obra trabalha com uma sequencia de imagens onde retrata o nosso olhar para os diferentes objetos e lugares.





O que o coração mandar, Ayêska Paula Freitos, ilustração Elvira Vigna. Editora Dimensão, Belo Horizonte, 2005, 6° edição. O livro conta a história de uma criança que após a separação dos pais se vê na difícil escolha, com qual dos dois morar, conflito esse que se torna mais intenso quando seus pais resolvem casar novamente com outras pessoas, o que se vê é uma nova configuração de família, diferente da convencional com meios-irmãos e irmãos dos meios-irmãos.



Cacoete, Eva Furnari, São Paulo: Ática, 2007. Livro onde as imagens fazem todo sentido ao texto, sendo impossível dissocia-las, as palavras também tomam forma de acordo com as expressões contadas. Essa obra retoma as velhas histórias de bruxas com uma criatividade e uma forma mágica de uma cidade totalmente surreal.









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