domingo, 19 de junho de 2011

Literatura... Percursos de leitura (Ivete Walty)

A autora vem afirmar o quanto o mundo contemporâneo é fortemente marcado pela mobilidade. Onde Walter Moser (2007) que estudou tal mobilidade atribui três tipos de movimentos: a locomoção, midiamoção e a artemoçao. A locomoção se refere ar migrações de pessoas, a midiamoção ao movimento de transferência dos meios midiaticos, como um livro que se torna filme, assim como o dialogo entre as artes onde uma musica é gravada e regravada em diferentes tons e escalas, versões diferentes nas artes plásticas. Ainda segundo Walter Moser esse processo da produção cultural contemporâneo engloba procedimentos de reciclagem, de reaproveitamento cultural onde esses procedimentos são um importante operador de leitura para se pensarem as praticas culturais do mundo atual. É nesse sentido, que é importante refletirmos um pouco sobre o par ciência e arte, a partir da relação entre linguagem e subjetividade pois o sujeito se constrói na e pela linguagem.
Sendo assim Dora Schnitman vem contestar a crença de que a linguagem é meramente um instrumento da comunicação, reconhecendo o lugar do sujeito na produção do conhecimento e a importância da enunciação, do lugar de quem fala e daquele para quem se fala e as instituições. A literatura deve ser pensada hoje nesse campo, móvel e complexo, porque ela é uma ligação de uma rede cultural que se expande pelo mundo inteiro sem ter espaços prefixados, seja das bibliotecas, escolas e museus.  Ou seja, falar de gênero textual implica perceber esse jogo de relações de pertencimento de forma interativa, hipertextual. Vale lembrar como a poesia circula hoje em suportes que vão do papel de pão à rede da web, jornais ou livros luxuosamente impressos ou os folhetos da literatura de cordel ( fazer link com o blog da elisangela). Assim como o poema digital, Palavrador, obra de Softwavy, e o projeto “leitura para todos” de Maria Antonieta Pereira, nos ônibus de Belo Horizonte.
Junto a mobilidade de suportes, está a mobilidade de gêneros, essas “formas relativamente estáveis” agrupadas pelos seus conteúdos temáticos, sua organização composiciona, que resultam em diferentes estilos. Assim como o diário e blogs, onde atravessamos diversas barreiras desde ordens geográficas a artísticas e muitas outras. Ate mesmo em Saraus, que acolhem pessoas variadas, onde se evidencia outros lugares da literatura, e mais, outros sujeitos/escritores. Como também se estabelece uma dialogo com sujeitos e espaços acadêmicos.
Notando-se que assim como a universidade se abre a sujeitos antes excluídos, a poesia escrita em folhas soltas, muros dialogam com outras em livros do passado e do presente, nas universidades ou nos centros culturais. Então, estudar literatura hoje é lidar com diferentes padrões e tendências, para isso temos que buscar operadores de leitura para nos ajudar a entrar em diferentes textos. E um desses operadores de leitura é o estudo do processo enunciativo, já que a literatura é um lugar da encenação da linguagem. A enunciação desdobra-se em uma pluralidade de eus e tus, deixando perpassar por vozes diversas. A autora traz como exemplo alguns textos de diferentes gêneros e lugares de fala, desde a Universidade ao cenário cultural da cidade para ilustrar o processo citado utilizando à temática do menino das ruas e das favelas. A autora faz o texto ser encantador pois através de casos, exemplos nos leva a refletir tudo o que esta sendo discutido e nos chama “atenção para as infinitas possibilidades de diálogos entre os gêneros e seus suportes, num movimento interativo”. Concluindo que os relatos, cotidianos ou literários, são nossos transportes coletivos, metáforas de De Certeau, em a invenção do cotidiano, “atravessam e organizam lugares, eles o selecionam e os reúnem num só conjunto, deles fazem frases e itinerários. São percursos de espaços”.

WALTY, Ivete. Literatura, percursos de leitura. In: Livros e Telas. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

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